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ESPIRITUALIDADE BÍBLICA

A procura do homem interior que vive no mundo exterior encontra seus desafios, suas esperanças, suas respostas no maranhado do quotidiano. São atitudes que levam o homem a percorrer caminhos que, na maioria das vezes, o conduz a lugar algum. O homem quer respostas às suas dúvidas. Ele se cerca do “ego” e se torna incapaz de ultrapassar as próprias barreiras. É o egocentrismo impeditivo às novas descobertas.

O homem e a mulher são convidados a uma experiência originária, que parte da própria origem: de Deus que os criou para fazer parte de Sua vida. Ser espiritual é voltar a si mesmo e se encontrar em Deus. Essa experiência espiritual originária tem sua forma, arquetípica, em Cristo e sua comunidade. Podemos encontrá-la em três momentos e percorrê-la em três vias: a espiritualidade do Cristo histórico, a espiritualidade dos seus discípulos, e choque espiritual no ambiente do tempo de Jesus.

A ESPIRITUALIDADE DO CRISTO HISTÓRICO

É sabida a espiritualidade de Jesus narrada nos evangelhos. Não podemos nos esquecer de que ele é real, viveu a humanidade plenamente, expressou humanamente, compartilhou sua humanidade num mundo real, participando intensamente da comunidade humana. Não é um indivíduo ausente. Ele tem uma fisionomia humana, uma conduta humana, um rosto humano. Sua atitude incomoda, pois sai do quotidiano: “Entraram em Cafarnaum. No sábado, Jesus foi à Sinagoga e pôs-se a ensinar. Todos ficaram admirados com seu ensinamento, pois ele os ensinava como quem tem autoridade, não como os escribas” (Mt 1, 21-22). É uma novidade qualitativa, não quantitativa. Continuando seu ministério, parte da Galileia, vai a Jerusalém a fim se entregar, para no meio do caminho, ouve o povo comparando-o a João Batista, Elias ou outro profeta. Percebem a grandeza de Jesus, mas não dimensionam a sua origem (Mc 8,27-28). Jesus é um homem religioso. Esta e a raiz de sua espiritualidade. Jesus fala de Deus, Seu Pai, em uma profunda comunhão. Expõe sua doutrina a partir de Deus. Para realçar sua intensa espiritualidade, podemos destacar: 1) Revela a face do Pai, sua atitude com os homens, seu amor, sua intimidade com Ele (Jo 14, 9-10). 2) Jesus é homem de intensa oração. Embora haja certa discrição evangélica, sabemos que Jesus orou antes de escolher os Doze (Mc 6,12); leva Pedro, Tiago e João consigo a montanha para orar (Lc 9,28); no monte das oliveiras (Lc 22, 40). 3) Sua profunda espiritualidade se manifesta na obediência ao Pai. Lembra que fazer a vontade do Pai é consumar sua obra (Jo 4, 34). Essa é uma das afirmações mais importantes da espiritualidade de Jesus, sua intimidade com o Pai que identifica sua experiência histórica vinculada à obediência, por isso faz a vontade do Pai.

ESPIRITUALIDADE DOS SEUS DISCÍPULOS

É um longo caminho. De um lado a incompreensão de seus conhecidos mais próximos, como a experiência em Nazaré (cf. Mc 6, 1-6); as reações dos judeus por não compreenderem sua missão (cf. Jo 6, 41-42) que o inferiorizam, mas não encontram respostas à sua forma de ensinar; em outra ocasião, o abandonam por discordar de suas declarações radicais (cf. Jo 6, 60). O chamado de Jesus exige prontidão, desprendimento e participação (cf. Mc 1, 16-20). Pressupõe adesão pessoal. É a marca da espiritualidade do discípulo de Jesus. No evangelho, quem chama é Jesus, o que ocupa o primeiro plano é a pessoa de Jesus. O discípulo frequenta a escola de Jesus para ser discípulo e nunca mestre (cf. Jo 13, 14-16). O discípulo é convidado a percorrer o mesmo caminho do Mestre, que passa pela cruz, profunda e radical adesão (cf. Mc 8, 27-35). O verdadeiro discípulo deve renunciar a si mesmo (cf. Mc 8, 34). Sua vida deve ser o caminho da cruz, voltar-se para a cruz e orientar-se pela cruz. Os discípulos de Jesus, no início, tinham o mesmo pensamento da multidão, esperavam uma glorificação terrena (cf. Mc 10, 35-38), no entanto, contrários à atitude da multidão, mesmo não compreendendo, permaneceram com Jesus, numa adesão plena. Dessa adesão apaixonada e inquebrantável ao Senhor é que se enraíza a essência da espiritualidade do cristão.

CHOQUE ESPIRITUAL NO AMBIENTE DO TEMPO DE JESUS.

Jesus viveu, ensinou e foi rejeitado numa sociedade profundamente religiosa. Nela existiu falsa busca de Deus e incredulidade do homem. Contra essa falsa religiosidade, tanto Jesus como os seus discípulos, dirigem veemente condenação. Contra ela os evangelhos são claros aos mencioná-las. É uma realidade histórica que é descrita na atitude dos fariseus e escribas. No evangelho de Mc 7,1-13 encontramos forte polêmica contra a espiritualidade farisaica. É preciso distinguir os mandamentos de Deus das prescrições humanas, estes passam, aqueles permanecem. Jesus rejeita o conceito de pureza dos homens, onde Deus está ausente. É preciso purificar-se dos pecados para encontrar Deus. É necessário tirar a máscara da hipocrisia para entrar na intimidade de Deus, que é fonte de toda espiritualidade: não é o que entra no homem que o contamina, mas o que sai do seu coração (Mc 7,15). É a moral do coração que precede a moral da ação. O coração tem que estar limpo para receber as coisas de Deus. É preciso reler a vontade de Deus. Todos os desvios espirituais nascem do não conhecimento de Deus. Não são apenas desvios morais, mas da total ignorância de Deus. É preciso eliminar a ignorância para permitir uma incondicional adesão.

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