O amor misericordioso, Lc 6,27-38.
Na primeira parte (27-31), Jesus, terminado o discurso sobre as bem-aventuranças, se dirige especificamente aos apóstolos. Ele lhes oferece uma síntese do amor cristão: amor incondicional a todos. É uma catequese composta de três partes que formam um todo.
Na primeira parte ele fala do amor aos inimigos (27-31). Trata-se de inimigos pessoas, aqueles que falam mal da gente. À inimizade propõe a amizade. Um amor operativo, compreensivo, inclusive nas orações, pois diante de Deus não podemos mentir. Diante das agressões devemos agir com o perdão: se alguém bater-lhe em uma face, oferece a outra. Diante dessa verdade evangélica ficamos escandalizados, pois o mundo aplica a lei de talião: olho por olho, dente por dente. Isso não são conselhos morais, mas uma atitude realista e cristã. A sociedade sempre elabora leis de conduta humana que afastam o perdão e a reconciliação. Só um amor leal ajuda o fiel a descobrir o verdadeiro amor entre os homens. O próprio Jesus insiste: façam aos outros o que querem que os outros façam a vocês.
Na segunda parte (32-25), Jesus ensina que do amar, fazer o bem, emprestar desinteressadamente nasce a nova comunidade que supera o círculo da solidariedade interesseira, o que caracteriza a lógica dos pecadores. O amor cristão é marcado pela gratuidade que tem origem no amor criador de Deus. A recompensa desse amor é a comunhão com Deus: vocês serão filhos do Altíssimo. O discípulo não só ama com amor desinteressado, mas o faz parque participa da realidade profunda do amor de Deus. Isso não é teoria, é um dever, é um dom, uma real possibilidade de amar como ama o Pai.
Lucas conclui a essência do amor misericordioso lembrando o perdão e a generosidade. Na terceira parte (36-38) o amor humano tem sua fonte no amor de Deus. É um amor concreto diante das misérias humanas que se traduzem em acolhimento, benignidade, crédito e confiança. Estas são as características do amor de Deus que acolhe e protege os fracos: Sede, portanto, misericordiosos como o Pai de vocês é misericordioso. A perfeição é um estilo do ser do Pai que, em Jesus, se revela e se comunica aos discípulos. O acolhimento, a comunhão e o amor fraterno são novas expressões para comunicar o amor, definir as relações entre as pessoas. Dar crédito ao irmão que erra e ajudá-lo a reconstruir o futuro pela renovação de vida.
Na nossa Igreja não podemos agir no amor como se fosse uma encenação, só para mostrar ao público. O amar está, primeiramente no interior, para depois ir ao encontro do outro, e juntos, celebrar a alegria da partilha, da comunhão.