O PAI NOSSO (Lc 11,1-4)
Uma das marcas lucanas é a oração. Nos momentos mais importantes na vida de Jesus, Lucas destaca o se recolhimento para dialogar com o Pai. No pedido dos discípulos, Jesus coloca a oração, não como fórmula dogmática, como palavras imutáveis, mas como estilo de espiritualidade que sai do interior da pessoa para encontrar o Pai, junto com o próximo. Esta oração se encontra somente em Lucas e Mateus, este está no contexto do Sermão da Montanha (Mt 6,9-13). Há algumas diferenças: No de Mateus tem sete pedidos, e de Lucas, cinco. Essa diferença está nos ambientes cristãos da Igreja primitiva. Mateus tem como foco o ambiente judeu-cristão, enquanto Lucas, o dos pagãos convertidos. Nenhuma delas tem a pretensão de reproduzir fielmente a fórmula ensinada por Jesus, apenas pretende relatar a atitude da comunidade orante diante do Pai. Nelas encontramos todo o fundamento do relacionamento de Jesus com o Pai e como os discípulos devem proceder.
Este é o conteúdo teológico do Pai Nosso: duas petições iniciadas pela invocação “Pai” que consta do projeto de Deus sintetizado em seu nome e em seu reino; três pedidos que expressam as necessidades básicas do discípulo: o pão, o perdão, a libertação do perigo da infidelidade. A invocação inicial, por si mesma, já diz o caráter universal da oração que Jesus quer transmitir: a confiança irrestrita no Pai, como São Paulo ensina aos Gálatas (4,6) sobre a adoção espiritual, no Abbá, papai. Assim, o ”Pai Nosso” não é tipicamente uma oração, mas um relacionamento com o Pai. Na boca de Jesus e dos crentes, a partir dos discípulos, Deus é o Pai que garante e liberdade e a dignidade dos que estavam sob o jugo do pecado. Na oração está a fórmula da liberdade adquirida a partir de Jesus (Cl 4, 1-6; Rm 8,14-15). No Pai Nosso, temos um Deus próximo que se revela no Filho e com Ele temos uma comunhão plena. O Pai Nosso continua pedindo a revelação do plano de Deus: “santificado seja o teu nome, venha o teu reino”. O Reino vem enquanto cria um ambiente de santidade para estabelecer a paz celestial já aqui e agora, enquanto se implanta fraternidade.
A segunda série de pedidos se abre pedindo o pão. A história dos homens é marcada pela falta de subsistência material diante da precariedade e necessidade de alimentos. Não pede acúmulos de comida, concentração de bens, mas o necessário para o hoje. É o pão de cada dia que pertence aos pobres, na linguagem evangélica. O pão partido, partilhado. O pão de hoje que sustenta a vida diariamente, sinal de fraternidade eucarística.
Nessa série de pedidos está também outra exigência para o homem: perdão dos pecados. É invocado a Deus, o único que pode quebrar o círculo do pecado que gera pecado, solidão, morte. Mas é um perdão dependente do perdão pessoal que religa a fraternidade.
O último pedido expressa a precariedade humana, sempre correndo o risco de ceder ao mal: “Não nos deixeis cair em tentação”. Jesus, no Getsêmani foi tentado, mas não se deixou sucumbir. É uma luta que só se vence com a oração, por isso exorta os discípulos a rezar, para não cair em tentação, para não se entregar diante das fraquezas humanas e artimanhas do demônio.