AS NORMAS DO REINO DE DEUS (Lc 14, 7-14)
Nessa narração de Lucas, temos duas parábolas que são propostas para uma vida digna diante do Reino de Deus. São ensinamentos para uma vida correta de onde se tira a mensagem evangélica para um novo estilo de vida. São novos critérios de avaliação que levam a Deus
A primeira parábola é tirada das regras de etiqueta em uso na sociedade da época, instruindo como se comportar num evento social, de acordo com a tradição sapiencial, como encontramos em Provérbios: “Não te glories diante do rei e não te ponhas no lugar dos grandes” (25,6). Jesus usa desse costume para dar uma aula religiosa. Havia pessoas que se julgavam importantes, eram vaidosas, presunçosas e estavam nos primeiros lugares em reuniões públicas. Eram os escribas e fariseus, os notáveis. No fundo religioso estão pessoas que se julgam importantes diante de Deus e querem se auto justificar, exigindo direitos. Mas o estilo de Deus é outro e seu critério de julgamento é diferente do dos homens. O que prevalece para Deus é a humilhação e não a exaltação. Nas nossas comunidades cristãs não deve haver privilégios nem exaltação pelo serviço prestado nem pelo cargo de comando, como o coordenador, porque são apenas servidores. “O maior entre vós se torne como o menor, e aquele que comanda, como aquele que serve” (Lc 22, 26). As etiquetas de Deus são muito diferentes das etiquetas sociais. Os homens não pensam como Deus. O Reino de Deus é muito diferente do reino dos homens. Há uma enorme diferença na escala de valores. As boas maneiras do Reino estão no servir e não no que é servido. Humilhação para exaltação. E a exaltação não acontece aqui, mas na vida eterna.
A segunda parábola é um ensinamento sobre o relacionamento entre pessoas. As confraternizações sociais estão voltadas para exaltações, para fins político-econômicos, para interesses imediatos. Oferecem-se banquetes, recepções, festas por motivos extravagantes. Jesus faz um desafio contrário ao pensam essas pessoas. Por que não oferecer, em sua casa, um jantar para os pobres? Para pessoas que não têm o que barganhar, pessoas sem prestígios de qualquer natureza. É um critério para medir valores evangélicos. Esses novos valores não estão nas classes sociais, econômicos, culturais. Estão naquilo que é dado por Deus, a sua imagem. Isso é assumir a causa do pobre, assumir os que nada valem para a sociedade do consumo. Mas, nesse caso, não há segunda intenção, não há lucro como pensa o mundo. Há o que Jesus anunciou nas bem-aventuranças como perspectiva de uma “ressurreição dos justos”, o futuro prometido por Jesus Cristo. É apresentado um itinerário para empenhar-se pela causa dos pobres, respeitando sua liberdade e não o escravizando de outra forma, como trabalho escravo.
São Lucas tem, como um dos conteúdos do seu evangelho, a defesa dos pobres. É verdade que sempre haverá pobres, mas isso não pode nos levar ao conformismo, dizendo que não acabará a pobreza, assim não adianta ajudá-los, porque é uma afirmação de Jesus. Outra falsa afirmação é dizer que também sou pobre, por isso em vez de ajudar, sou eu que preciso de ajuda. Um dos ditos de Santa Tereza de Calcutá era: “O pobre dos mais pobres”. E quem é o pobre no meio dos pobres?