AS PARÁBOLAS DA MISERICÓRDIA (Lc 15, 1-32)
Lucas é considerado o evangelista da misericórdia. Nessa passagem ele inclui três parábolas que se resumem na participação da alegria de Deus, em Jesus Cristo. Nelas são relatados acolhimento e salvação dos pecadores, que é a essência do Evangelho de Jesus Cristo, libertando o homem do sofrimento, da solidão e do desespero.
Na primeira parábola Jesus acolhe os pecadores e come com eles, provocando a censura dos fariseus. O Pai é anunciado a todos os homens por meio do Filho; é dada a esperança da salvação que acolhe os excluídos, os desesperados, os perdidos. Isso escandaliza os religiosos do judaísmo que não querem recuperar os pecadores. Para a Lei, fonte dos judeus, aos pecadores é dada a oportunidade de ajustar suas contas com Deus mediante o jejum, as orações, obras de misericórdia. Mas, para os fariseus, os radicais, a interpretação é outra: o pecador compromete a aliança do povo de Deus, por isso se deve afastar daqueles que transgridem a Lei. Jesus não aceita essa exigência e anuncia a salvação aos pecadores, não pela prática de regras religiosas e legais judaicas, mas porque Deus se solidariza com os excluídos e necessitados, vai em busca do perdido e cuida dele e faz festa com aquele que é encontrado.
Podemos dizer que duas parábolas seguintes são gêmeas perfeitas, a da ovelha perdida e a da moeda, são para mostrar como Deus se alegra no reencontro com o pecador. Deus é o pastor que procura a ovelha desgarrada. Ele toma a iniciativa e não fica esperando que a ovelha retorne. Conclui afirmando que “há mais alegria no céu por um pecador que se converte do que por noventa e nove justos que não precisam de conversão". Deus se alegra com a conversão do pecador. O pecador precisa compreender a alegria de Deus para participar do banquete redentor.
As duas parábolas são um convite à Igreja para entrar no mistério de Jesus Cristo, levando a participar de sua vida, sua missão, chamando a todos à conversão. A conversão é o encontro do pecador com Jesus, é a mudança de rumo para encontrar a verdade. É uma alegre festa pelo reencontro e a redescoberta do amor infinito de Deus que salva o mundo, no Filho.
Essas duas parábolas conduzem ao grande reencontro com o Pai, o filho pródigo que retorna à casa paterna. O protagonista é o Pai que perdoa o filho e não quer saber de sua vida no mundo da perdição. Simplesmente o acolhe e manda preparar o banquete para comemorar o seu retorno. A parábola começa relatando a rebeldia do filho, continua com sua degradação até chegar à mais humilhante convivência na lama com os porcos. A mensagem central se situa no amor acolhedor de Deus com o hino vitorioso sobre o mal: “Este meu filho estava morto e tornou a viver, estava perdido e foi reencontrado”. O máximo da miséria humana é manifestada no abandono, na fome, na miséria, ser vendido a estrangeiros, viver no meio dos porcos, animais impuros. É nessa situação que o jovem se lembra de sua família, da casa paterna.
O ponto máximo se encontra no Pai que esquece toda infidelidade do filho e vai ao seu encontro, acolhendo-o ser mágoas e reabilita a sua condição filial. Não quer ouvir o seu sofrimento e arrependimento, apenas festejar e restabelecer sua dignidade: roupas novas, sandálias, anéis, sinais visíveis de um homem livre e que deve ser celebrada a sua nova vida.
Em contra partida está o filho mais velho e que o Pai também vai ao seu encontro, revelando-lhe a mesma bondade, mesmo diante da sua revolta. Uma vez mais é o Pai que sai ao encontro do filho e pede-lhe que perdoa o irmão e festeje o seu regresso. O filho reencontrado pelo pai é um renascimento, é sair do pecado e participar do Reino de Deus.
A parábola do filho pródigo é um convite a descobrir o amor misericordioso do Pai e deixar-se envolver pelo seu acolhimento. Deste modo, Jesus responde aos fariseus e escribas, os praticantes da religião judaica, que o amor fraterno é a verdadeira lei, o núcleo da prática evangélica, da “boa nova”. Os homens são chamados a tomar parte no amor de Deus e na alegria do perdão, abrindo-se ao amor que leva ao encontro do Pai Celeste e convida para o banquete do reencontro redentor.