Ano B – 28º DOMINGO DO TC - A DIAKONIA
A franqueza e fragilidade humana estavam também na Igreja nascente, aquela que Jesus começou a formar com os Doze. Eram homens que se entusiasmaram com a liderança de Jesus. A esperada restauração da monarquia em Israel estava delineada e queriam Jesus como chefe político. Marcos, em sua passagem de 10, 35-45, mostra essa realidade. Depois do terceiro anúncio da paixão, apresenta o contraste com os filhos de Zebedeu, Tiago e João, pleiteando cargos e lugar de destaque no reinado humano de Jesus, segundo suas ambições. Mas Jesus lembra os momentos de degradação que culminarão com sua morte, embora os outros dez se irritaram enciumados contra Tiago e João, que, justificando seu apelido de filhos do trovão, pediram os primeiros lugares como primeiros-ministros no Reino que o Messias glorioso vai instaurar, segundo seus pensamentos.
Jesus dá a resposta em dois momentos. Primeiro ele esclarece sobre o estatuto do Reino: a primeira condição para promoção é a participação em seu destino, que é marcado pela humilhação, sofrimento e morte violenta, recorrendo a duas imagens do ambiente bíblico: beber o cálice e ser batizado. A primeira indica o destino de morte, de ruina e destruição (cf. Sl 75-9). O cálice da cólera de Deus, juiz dos pecados dos povos (cf. Jr 25,15; Ex 23, 33-34). Jesus se identifica com esse destino histórico. Ele beberá o cálice até o fim, que é o destino da humanidade embriagada e drogada pela violência e exploração humana. O cálice que circulou entre os seus na Última Ceia lembra, antes da morte, seu empenho libertador com a humanidade pecadora que culminará na cruz.
A segunda imagem, a do batismo, lembra o destino de uma morte dolorosa. Ser batizado ou imerso é o afundar do perseguido nas águas da morte, é o mergulho no sofrimento da morte. Ele não tem ligação como batismo no início de sua vida pública, no rio Jordão. Aquele era um gesto simbólico de conversão. O verdadeiro vem agora no fim de sua vida. Ele será verdadeiramente solidário com os pecadores, numa situação de morte, que é fruto do pecado que se tornou estrutura de poder. Seu batismo é a morte com os pecadores e para os pecadores.
Com essas duas imagens pode-se entender como as primeiras comunidades cristãs pudessem expressar sua participação no destino de Jesus, mediante os dois gestos sacramentais do batismo e do cálice. Não é um simples gesto comemorativo, porque seria desconhecer a seriedade do empenho de Jesus. Por isso os dois discípulos agora se declaram prontos a compartilhar o destino de Jesus. Para Tiago, sua morte ocorre no ano 44, por ordem de Herodes Agripa; João sofrerá tribulações, sendo inclusive exilado, embora não morra de morte violenta. As profecias e as promessas de Deus não são prognósticos e predições, mas propostas ao homem para que se abra ao futuro de Deus. Um futuro livre feito com disponibilidade. A participação no Reino é para aquele a quem foi reservado. Os outros dez não são melhores do que os dois, eles também vivem na expectativa de uma promoção. E Jesus alerta sobre o reino de Deus e o dos homens, no regime político, por isso entre vós não deve ser assim, e propõe outro tipo de governo: o servo e o escravo, pela diakonia. Os que servem são os grandes e os primeiros na comunidade. Jesus conclui que o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir; assim dever ser o discípulo missionário.
Isaias, 53,10-11, no quarto canto do Servo, profetiza que o Senhor o quis ferir pelos pecados da humanidade, mas o desígnio de Deus triunfará. Os pecadores serão redimidos com a morte do Justo.
E Hebreus, 4, 14-16, nos afirma que temos o sumo sacerdote eminente que entrou na glória celestial, Jesus Cristo, que foi provado em tudo, menos no pecado. E graças a Ele alcançamos a misericórdia salvífica com seu único e verdadeiro sacrifício.
Trabalhar para a vida eterna é morrer diariamente para o mundo e seus valores. É renunciar para ressuscitar. É tornar-se pobre para ser rico na vida eterna. É renunciar as grandezas terrenas servindo, junto com os anjos e santos, na casa do Pai. É beber o cálice da provação e morrer pelo batismo da cruz. Esta é a pertença no Reino instaurado por Jesus.
Comentários